Produtos Típicos
A comida faz parte do património sociocultural dos povos e a Ilha do Fogo é tão rica de sabores e tradicoes.
Em particular é conhecida pela produção de fruta: mamão, maçã, pêssego, marmelo, uva, banana, manga, café, etc., são cultivados aqui, frequentemente em regime de sequeiro, sobretudo nas áreas dos Mosteiros e Chã das Caldeiras, onde as condições atmosféricas permitem um ótimo desenvolvimento da horticultura e da fruticultura.
Também o queijo de cabra, o cafe e o vinho representam todos os sabores e as tradições do Fogo.
Vinho
Historial da viticultura na ilha do Fogo
A introdução da vinha e a produção do vinho em Cabo Verde e na ilha do Fogo em particular, remonta ao século XVI, logo após o povoamento. Os portugueses tiveram, desde o início, a preocupação de trazer para cá as culturas alimentares mediterrâneas que faziam parte dos seus hábitos alimentares. Neste contexto, o vinho, além de fazer parte do hábito alimentar dos portugueses, era também usado pelos sacerdotes nas cerimónias religiosas. Porém, os documentos mostram que a vinha não chegou nos primeiros momentos do povoamento das ilhas.
A ilha do Fogo revelou-se como a que melhor potencialidade tinha para o cultivo e sucesso da vinha. Nos primórdios da sua chegada era cultivada em Santo Antão, São Nicolau, Brava, Santiago e no Fogo.
No início do século XIX, os viticultores e vinicultores dinamizaram o cultivo da vinha e a produção do vinho, bem como restabeleceram o comércio com o Brasil.
Pode-se dizer que a afirmação do cultivo da vinha e da produção do vinho só vingou com largo rendimento durante os dois últimos séculos, principalmente a partir da primeira década do século XX em que passaram a cultivá-la na região de Chã das Caldeiras. Numa pesquisa feita nos anos cinquenta do século XX o geógrafo Orlando Ribeiro diz que “ a cultura da vinha é hoje, no Fogo, uma sobrevivência das `boas vinhas` que outrora forneciam vinho para o Brasil”. Deve-se realçar também que depois das pesquisas desse conceituado geógrafo, presencia-se após a independência um significativo crescimento do cultivo de boas cepas e produção de muitos e bons vinhos.
Alemã a partir da década de 80 do século XX (1982/84) em que foram construídas as duas adegas de Chã das Caldeiras (Santa Catarina) e de Achada Grande (Mosteiros) e com o financiamento de alguns equipamentos que dotaram essas infra-estruturas de condições modernas e muito recentemente a partir de 2005 com o projeto da vinha Maria Chave a plantação da vinha aumentou significativamente bem como a produção do vinho na ilha do Fogo.
Hoje a ilha conta com três grandes adegas de Produção do vinho: Adega “Chã”, situada no concelho de Santa Catarina, Adega “Sodade” no concelho dos Mosteiros e Adega “Maria Chaves” situada no concelho de São Filipe. Os resultados melhores no cultivo da vinha na Ilha do Fogo conseguem-se numa altitude variável entre 1.500 e 2.000 metros.
Em particular, os vinhos da Adega Chã são feitos a partir das vinhas localizadas na Caldeira do Vulcão e, desde 1998 através do programa do Ministério da Agricultura (Programa de Desenvolvimento da Fruticultura em Cabo Verde) e do apoio técnico da ONG italiana COSPE (Cooperação para o Desenvolvimento dos Países Emergentes), foi criada a Cooperativa de Transformação de Produtos Agro-Pecuários de Chã das Caldeiras, também denominada Cooperativa Chã. O cultivo da videira e a produção do vinho aumentaram em qualidade e quantidade, numa perspectiva de produção cooperativa.
No Fogo produz-se quatro tipos de vinho, designadamente o Tinto, o Branco, o Rosé e o Passito.
O primeiro é obtido fermentando a uva juntamente com a casca. Tem cor vermelha escura com tonalidades roxas, com sabor que lembra o da amora silvestre e da cereja. A gradação alcoólica é de 14°. As características do vinho Tinto são mais apreciadas se servido a uma temperatura de 18-20°C e normalmente é utilizado para acompanhar pratos de carne.
O vinho Branco apresenta cor dourada e claridade brilhante, com cheiro aromático. Sua gradação alcoólica é de 14°. Este vinho presta-se muito bem como aperitivo ou para acompanhar pratos de peixe e mariscos. A temperatura de consumo aconselhada é de 10-11°C.
O Rosé é obtido utilizando a uva preta tradicional, esmagada e prensada logo a seguir. A cor é rosé com tom brilhante. Seu cheiro faz lembrar o de frutos aromáticos como o morango, enquanto o sabor é acabado e fino. A gradação alcoólica é de 14° e seu consumo é recomendado a uma temperatura de 10-11°C, para acompanhar pratos de peixe e mariscos.
O vinho Passito é obtido pela utilização de uva branca moscatel secada nas pedras lávicas de Chã das Caldeiras. É um vinho encorpado, tendo uma cor ambarada. Apresenta um cheiro doce, lembrando o de fruta seca. Desenvolve suas melhores qualidades se bebido a uma temperatura de 12-14°, acompanhado por biscoitos e sobremesas, mas pode ser bebido sozinho também, sendo um “vinho de meditação”.
Vale a pena experimentar também o vinho tradicional local Manecom, feito em casa que os foguenses costumam beber com a família ou amigos.
(David Monteiro Presidente da Associação dos Agricultores de Chã das Caldeiras)
Frutas
A Ilha do Fogo é tão rica de sabores e em particular é conhecida pela produção de fruta tropicais e mediterrâneas, sobretudo nas áreas dos Mosteiros e Chã das Caldeiras, onde as condições atmosféricas permitem um ótimo desenvolvimento da horticultura e da fruticultura.
Aqui o clima é diferente do resto da ilha, mais tropical e muitas vezes envolto em uma névoa leve, graças ao qual é possível cultivar as seguintes variedades de frutas: manga, banana, papaia, caju, calabaceira, mamé, jambo, pinha, figo, uva, maçã de terra, marmelo, goiaba, azedinha, limão, laranja, tangerina, abacate, jaca e tamarindo.
Algumas frutas costumam ter uma grande produção como a manga e banana, merecendo assim a sua comercialização por parte das famílias representando uma boa fonte de rendimento, principalmente para aquelas que dependem quase que exclusivamente das atividades agrícolas.
A partir das frutas, é costumeiro as famílias as transformarem em sumos e doces caseiros como goiabada, marmelada, doce papaia, doce caju, doce de tamarindo, doce de azedinha e em vários destilados alcoólicos.
Cafè
História do café do Fogo
O Café na Ilha do Fogo foi introduzido no século XVIII aquando da instalação do Morgadio de Monte Queimado, que pertenceu a Pedro Fidalgo de Andrade, parte adquirido em 1874 por Albino José Avelino Henriques (1803/1883), há seis gerações, um a mesma família, Avelino Henriques. De entre os descendentes, Álvaro Avelino Henriques (Nhô Bain), implementou a plantação com introdução novas espécies, mais tarde dos filhos Agnelo, Aníbal, António e sobrinho José. Sob a gerência de Agnelo e António triunfou na Exposição Colonial do Porto em 1934, agraciado com a medalha de ouro, anteriormente distinguido em 1916 e 1917 na Exposição Agrícola da Praia, posteriormente na Grande Exposição na Índia Portuguesa 1954.
Na Ilha do Fogo existe apena a espécie arábica à partir da qual se produz um café 100% biológico cultivado em condições climáticas adequadas ao seu desenvolvimento. A totalidade da cultivação é concentrada a uma altitude que varia de 600 a 1200 metro, acima do nível do mar. Nestas colinas os arbustos ganham forma e tamanho, dando o grão nobre e rúbea, de sabor acentuado, mas com um baixo teor de acidez, tratado com métodos artesanais sem qualquer intervenção de máquina ou produto químico.
A plena produção do cafezal é em Fevereiro e Março, e entre os diferentes tipos e categorias selecionado se destacam Moka (especial) e Primeira Qualidade.
O cafè de Fogo è certamente o produto típico que os turistas vai querer levar na sua bagagem como lembrança. Está disponível em muitas lojas locais em toda a ilha torrado ou moído e em São Filipe, na loja “Djarfogo”, além de saborear um café feito na hora, se pode também presenciar à sua preparação desde a torrefacção.
A torrefação é uma arte
Durante a torrefação o processo propicia a elevação do sabor e aroma dos grãos, o calor desencadeia uma série de reações químicas, os óleos aromáticos encontram-se efetivamente no âmago da torrefação, os chamados Essência do Cafè, o óleo do café ou cafeol.
Depois a colheita os grãos de café são colocados ao sol durante 15 dias para a secagem; quando estão prontos se pode fazer a debulha, separando a casca do grão através de máquinas, ou então, através do pilão que é o método mais antigo. Após esta separação, se faz a torrefação dos grãos, de modo manual numa panela (que é o método mais utilizado localmente), ou com as máquinas.
Antigamente a apanha do café era uma atividade que movimentava o Concelho dos Mosteiros, parecendo uma festa. Era comum pessoas trocarem o café recém apanhado por produtos de primeira necessidade. Quando se terminava a colheita do café dava-se uma festa com tambores e com bandeira. Era altura também onde alguns produtores presenteavam as apanhadeiras do café.
Todos os anos, em Abril, o Festival do Café acontece na Ilha do Fogo, no Município dos Mosteiros, com stand, comida, artesanato, dança, musica e diversa atividades culturais.
Queijo de Cabra
Fogo é também conhecido pela produção de queijo de cabra, cuja comercialização atinge não somente a ilha toda mas também outras ilhas do arquipélago.
E’ uma das atividades económicas mais importantes da Ilha e a tradição vem de longa data. A sua produção sempre foi feita de modo tradicional e o queijo de cabra na Ilha é peculiar pela sua forma de cogumelo que simboliza o Vulcão do Fogo. As folhas de carrapato são usadas para obter esta forma de cogumelo.
E’ um excelente fonte de cálcio, proteína e vitamina fundamentais para a formação e a manutenção dos ossos, para o crescimento das crianças e para a mesa de todos os dias, sendo um ingrediente saboroso, versátil e saudável.
Nas mesas foguenses podemos saborear-lo em várias receitas, como o doce de papaia ou o pudim de queijo.
Os pratos típicos da Ilha do Fogo
Milho, legumes, carne e peixe são os principais ingredientes das receitas tradicionais da Ilha do Fogo.
O milho, em particular, constitui a base da dieta cabo-verdiana sendo o principal ingrediente de diferentes pratos típicos, desde os salgados até às propostas doces.
Encontra-se na Cachupa, que representa a cozinha cabo-verdiana no mundo e que conta através dos seus sabores e cores, toda a tradição culinária deste país. A sua preparação prevê milho em grão, feijões, mandioca, couves, batata-doce, enchidos e carnes, ingredientes que dão um otimo sabor a esta receita. Geralmente, no dia seguinte, a “Cachupa Rica” ainda pode ser refogada e servida com ovo estrelado e linguiça de terra.
Sempre com o milho encontramos outros pratos típicos que se podem saborear nessa terra como a Djagacida, comida tradicional da Ilha do Fogo com feijões pedra e farinha fina de milho, ou os famosos Pasteis, uma massa com farinha e batata-doce da qual obter pedaços recheados com carne ou peixe, bem fechados e fritos e que as mulheres da ilha costumam vender na rua.
O Xerem, se faz a partir da milho em grão de media grandeza, cozido com uma folha de louro e toucinho que se pode comer com legumes fervidos o feijão. E o Cuscus, que aqui tem forma de bolo e os ingredientes são milho pilado e reduzido em farinha fina, que o povo costuma comer na hora do pequeno-almoço com manteiga o mel.
A farinha de milho è usada também para fazer um prato chamado “Totoco“: pedaços de massa caseira fresca cozida e servida com um molho de carne ou peixe; um prato tradicional típico que se geralmente è comido na família.
A não esquecer a gostosa Feijoada, servida bem quente e feita com feijões, vários legumes e pedaços de carne de porco.
De manhã, na hora do pequeno-almoço, seguindo a tradição local se costuma beber um quente café do Fogo, comer pratos como a cachupa rica, xerem, cuscus ou a djagacida refogadas, acompanhados com batata-doce assada e queijo de cabra ou um bolinho frito chamado “batanquinha” à base de milho e batata doce.